Francisco Carrión.
Cairo, 21 mai (EFE).- Milhões de árabes, alheios à internet devido aos caracteres latinos dos domínios, agora podem “teclar” em seu idioma os endereços dos sites o que supõe a maior “mudança histórica” da era digital.
“É a maior mudança na história da internet” disse à Agência Efe a especialista Tina Dam, diretora do programa de nomes de domínio internacionalizados ou IDN da Corporação para a Atribuição de Nomes e Números na Internet (ICANN, na sigla em inglês).
O novo sistema permite aos países com alfabetos não latinos dispor de um domínio nacional em seu idioma, que os internautas podem digitar direto na barra de navegação.
O domínio em árabe “.masr”, que significa Egito, começou a funcionar esse mês e é, junto aos domínios da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, o primeiro com caracteres não latinos na história da internet.
Até agora “ter de usar caracteres latinos tinha sido uma barreira para muitos, porque não era lógico que os links nas páginas de internet, os anúncios e o material impresso com todo seu conteúdo em árabe tivesse que ser escrito em outro alfabeto”, explica Dam.
Uma parte da população, segundo a responsável da ICANN, não está familiarizada com os símbolos latinos, “por isso encontrava dificuldades para lembrar os endereços e escrevê-los depois”.
No Egito só 17 milhões de pessoas, 21% da população, usam a internet devido ao obstáculo lingüístico.
Sem a barreira do idioma, a internet deve se popularizar e se aproximar aos números de uso dos celulares, um aparelho utilizado por 56 milhões de egípcios graças a um teclado e uma interface em árabe.
Esta mudança era uma “matéria pendente” que torna a rede mais acessível para a metade dos internautas de todo o mundo – cerca de 800 milhões de pessoas não falam idiomas com alfabetos latinos.
Depois do árabe, o russo com o código em cirílico “.rf” (de “Rossískaya Federatsia” ou Federação Russa) já está presente nos domínios. A estes dois idiomas se somarão outros 21, em processo de aprovação pela ICANN.
“Isto não foi possível antes porque não havia uma solução técnica para o problema”, assegura Dam, que explica que a “internet não foi construída originalmente para suportar todos os idiomas do mundo”.
“Uma mudança tão grande como esta deve ser feita com cuidado e de maneira gradual para garantir a estabilidade da rede”, acrescenta.
Em fóruns e blogs, os egípcios comemoram a notícia que, segundo alguns, deve ajudar no desenvolvimento e na aprendizagem do árabe no mundo “como a internet favoreceu a extensão do inglês”.
“Estou muito feliz, porque isto me lembra que ainda podemos fazer algo”, escreveu um internauta, que compara este sucesso digital com Talaat Harb (1867-1941), o fundador do primeiro banco de capital egípcio que modernizou a economia no país do Nilo.
Como no novo domínio, na entidade de crédito de Harb o árabe foi sempre o veículo de comunicação frente às imposições das autoridades coloniais britânicas da época.
Com “este grande passo”, que aproximará a rede global dos novos usuários receosos de domínios escritos em um idioma alheio, a “internet fala árabe”, como proclamou o ministro egípcio de Tecnologias da Informação, Tareq Kamel.
Fonte: entretenimento.uol.com.br